segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Guia Para Não Pagar Mico Citando o Pragmatismo Político


Guaxinim na área!

Vi no site do pragmatismo político um "guia para não pagar mico quando falar do preço da gasolina". O link segue aqui.

Meu amigo Mico não tem nada com o Pragmatismo Político!


Pelo título pretensioso (e ofensivo aos honrados micos), resolvi ler, apesar de evitar esse site que considero um antro de truões (na minha avaliação, eu deixo o link e meus argumentos para você tirar suas conclusões).

Eu defino desonestidade intelectual como falar algo que você sabe que está errado para levar o interlocutor a tirar uma conclusão ou evitar falar algo que você sabe porque isso não irá colaborar com um interesse que você deseja manter oculto para o interlocutor.

Então resolvi fazer um guia para refutar o site pragmatismo político em 7 pontos (sempre lembrando que uso a palavra "guia" de forma irônica, não pretendo ser guia de ninguém, leia e decida por você mesmo):

  1. O ICMS não subiu, portanto se a taxa (embora alta) se manteve inalterada, não há como se creditar a alta no preço da gasolina no ICMS. O site tira um número da cartola, mas não cita o estado onde o ICMS tem aquela alíquota, sob o pretexto de informar para "evitar gafes" o site omite... informação.
  2. A alíquota de responsabilidade federal é menor, mas precisamente por ter sido a que subiu, é a responsável pela alta nos preços. Também é de responsabilidade federal a política de preços da Petrobrás. É responsabilidade federal a organização do setor como um todo. Reduzir o problema aos impostos federais (sempre omitindo a fonte) é mais uma canalhice. O truque é: se o imposto federal é baixo, é pequena a parcela de responsabilidade federal no problema (reclame com seu governador). Truque.
  3. Está longe de ser a mais cara do mundo. Mas como de costume o pragmatismo político omite informação. O próprio site fonte informa "utilizamos dados mais antigos que estamos a actualizar conforme a taxa de câmbio corrente". Os preços estão em dólar. Como o real desvalorizou, hoje um dólar vale 2,7873 reais, ou seja, você precisa de menos dólares para comprar gasolina. E parte da desvalorização do câmbio é fruto de políticas desastradas do governo federal, que ele tenta isentar no item 2). Vale lembrar que ninguém junta dólares para ir comprar gasolina no posto.
  4. O preço do Barril de petróleo em 2002 era muito próximo do atual, em torno de 50 dólares. Acontece que o câmbio médio de 2002 inteiro foi de 2,56, mesmo considerando que os últimos 6 meses sofreram o "efeito eleição Lula" quase batendo 3 reais. Além do efeito câmbio, é besteira comparar sem que se leve em consideração que a capacidade de produção de derivados e que o descasamento entre oferta e demanda em 2002 e em 2015 eram totalmente diferentes. O pragmatismo político simplifica para desinformar (sempre omitindo a fonte e escondendo o racional por trás das afirmações).
  5. Se o custo do petróleo é só 20%, cabe lembrar também que a Petrobrás importou gasolina e não petróleo. Além de não se beneficiar do preço mais baixo comprou gasolina caro e vendeu a preço inferior aqui. Se tivesse capacidade de refino, poderia ter importado a matéria prima mais barata e fabricado a preços mais baratos. Isso  só já derrubaria o argumento de "não depender do mercado internacional". Basta ouvir um call de investidores da Petrobrás e eles afirmarão que o resultado (logo, os preços e custos) dependem SIM do preço do petróleo. É ilógico e desonesto intelectualmente afirmar o contrário, porque é só acompanhar os resultados financeiros da Petrobrás para saber disso.
  6. Convenientemente o site compara os períodos de governo de dois partidos. O ponto é o seguinte: comparar por comparar sem apresentar contexto não significa nada. Então as condições objetivas que levaram ao aumento atual estão automaticamente absolvidas só porque no período escolhido pelo avaliador o aumento atual foi menor do que o anterior em outra conjuntura? Nem o câmbio era totalmente flutuante em parte desse período, nem a capacidade de refino local, nem a oferta, nem a mistura de etanol e os preços, nem a demanda local, nem a infraestrutura. É uma maneira de distrair o leitor.
  7. Vamos partir do pressuposto que de fato é possível comprar mais gasolina com o salário mínimo hoje. A pergunta que deve ser feita é: se eu comprasse 50 litros de gasolina com o mínimo do passado, o que eu poderia comprar com o resto do meu dinheiro? O poder de compra do mínimo em relação a 1 produto não diz nada sozinho. Ainda, o passado não absolve o presente. Trazer a política de aumento no salário mínimo é diversionismo puro e simples, com o intuito de levar o leitor a uma conclusão sem que se avalie a conjuntura. O dado incontornável é que o recente aumento do preço da gasolina é fruto de má gestão da economia como um todo. E isso se refletirá em maior inflação que, vejam, irá reduzir o poder de compra do... salário mínimo.
É isso. O problema é que o pragmatismo político precisa de poucas palavras para falar besteira. O Guaxinim tem que usar muitas palavras para corrigir. E para leitores ávidos para justificar suas cosmovisões (o leitor típico do pragmatismo político), quanto menos leitura melhor.

Vou evitar posts de "combate". Não é desejo do Guaxinim ser enxota-moscas. Mas esse "guia" do pragmatismo foi de doer.

Abraço!

Links úteis:
http://www.bloomberg.com/news/articles/2012-11-21/petrobras-losing-8-billion-on-cheap-gasoline

http://www.ebc.com.br/noticias/economia/2015/01/petrobras-decidira-preco-da-gasolina-como-empresa-diz-levy

https://www.itau.com.br/itaubba-pt/analises-economicas/publicacoes/revisao-de-cenario-brasil/combustivel-para-a-inflacao

http://www.valor.com.br/brasil/3391436/cambio-e-combustiveis-podem-puxar-para-cima-inflacao-de-2014-diz-fgv


http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,leilao-da-anp-comeca-com-indefinicoes-sobre-setor-e-crise,295814

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/05/130424_etanol_mdb


sábado, 24 de janeiro de 2015

Público, Gratuito e De Qualidade

Guaxinim de volta!

Um post aqui sobre um evento recente.

A toca do Guaxinim fica próxima a uma padaria, muito próximo de um local notoriamente utilizado para manifestações em São Paulo.
Cheguei tarde do trabalho e como de costume fui comer algo por lá. Quando cheguei, alguns manifestantes, que haviam saído de uma manifestação por transporte "público, gratuito e de qualidade" estavam por lá.
Dois deles sentaram-se no balcão, ao meu lado. Não reparei muito no pedido deles, mas eles comeram muito mais do que eu, dois lanches, refrigerantes e depois ainda compraram duas águas "para os companheiros" (juro que ouvi essa expressão, parece mentira por ser tão cafona).

E porque eu perdi tempo prestando atenção nisso? Eu nunca peço, mas vejam a minha nota de consumo da padaria:

Imposto: Um pouco mais de 3,20...

Bom, o ponto é bem óbvio. Paguei em impostos absurdos 26,33% consumindo um pão de queijo, um pão com manteiga e uma média expressa. Meus "companheiros" provavelmente dispensaram muito mais do que isso, posto que consumiram muito mais.

Vejam agora esse outro cupom:

Uma simples ida ao supermercado: 37,61% de imposto.

Este é um cupom de uma compra de supermercado (algumas frutas, água, produtos de limpeza, pão etc).
Hoje no Brasil a alíquota de imposto de renda mais alta é de 27,5% sobre os rendimentos. 
Em dois exemplos banais, estou demonstrando aqui que paguei 26,33% e 37,61% de impostos em duas compras. 
Ou seja, mesmo que você seja isento, no dia a dia, você acaba levando uma mordida ainda maior do que aqueles 27,5%. Na hora de consumir, você paga imposto como se fosse "alta renda".

Quem recebe menos de R$ 4.463,81 (em 2014), paga uma alíquota menor ou é isento. 
A questão é que quem recebe menos, acaba tendo que direcionar mais dos seus recursos para consumo. Quem recebe mais, ainda pode poupar, investir, fazer algo para aumentar seus ganhos. Quem recebe menos, quanto mais impostos paga, menos consome. É uma conta de soma zero. Mas como isso fica "escondido", as pessoas ficam achando que o alto custo dos produtos vem de um "lucro Brasil" ou que é "justo" que "só os mais ricos" paguem impostos. É reduzir um problema complexo a duas simplicidades.

Continuo. Vejam o gráfico abaixo:

"Companheiros", vamos pra rua!!

Bom, a tendência arrecadatória é clara. Esse número é da secretaria do tesouro nacional, e diz respeito somente às receitas do governo central, por isso é um pouco diferente da faixa de 40% de alguns cálculos que consideram outras fontes. Mas a tendência é clara.
Recentemente, foram anunciados expressivos aumentos de impostos, chamado de "pacotaço" por gente de dentro e de fora desse remendo de governo. Quando um governo aumenta impostos, tarifas, taxas, cria multas, isso naturalmente gera revolta. E o guaxinim acha isso legítimo, companheiros.

Mas discordar, revoltar, não basta. Para discordar de algo, é preciso primeiro expor os pontos de discordância de forma clara, para então analisar os componentes daquilo que se discorda, para entender qual é a lógica que rege esse pontos, qual a fonte dessa lógica, para então mostrar, o que há de errado nela.

Porque digo tudo isso? Mais um gráfico:

Todos tem uma causa, nem todos vão a uma reunião de orçamento lidar com militantes...


Eis o ponto da questão, aquilo que gera a revolta, é normalmente utilizado para atender demandas de cada vez mais coisas "públicas, gratuitas e de qualidade". O governo banca suas ações com impostos, aumentando a dívida pública, emitindo moeda ou impondo subsídios cruzados. 

A dívida explodiu (como mostrei em post anterior), a inflação está alta (o que, se não atualizam a tabela do IR, significa que estão cobrando imposto de quem teve aumento de renda por atualização salarial e não porque passou a ganhar mais em termos reais) e a despesa do governo só aumenta. Mas ninguém está nem aí. Só as despesas do governo central somadas às transferências aos estados e municípios chegam a quase 1/4 de tudo o que é produzido no país.

E há algum tipo de manifestação a respeito disso? Porque as pessoas assumem que é direito delas obrigar o governo a arrecadar recursos de forma predatória para garantir "direitos"? É um direito do governo me tungar 26% do que eu consumo na padaria para fazer mal uso disso? Qual o limite?
O dinheiro que meus "companheiros" de padaria entregam - todo dia, a toda compra - reduz a capacidade deles pagarem pelo transporte e por qualquer outro item que eles desejam consumir, sem que eles sequer notem isso.

Mas ir às reuniões de orçamento, votar em quem não promete cada vez mais "direitos", pressionar os vereadores por transparência na execução do orçamento, entender os contratos de prestação de serviços públicos, demandar critérios claros e técnicos na alocação de recursos finitos, isso não interessa a nenhum companheiro preocupado em vender sua narrativa de "justiça social", para angariar votos e poder depois (e que não liga para o dinheiro que deixaram com imposto na padaria tomando coca-cola...).

Não existe aumento de receita orfã. Os "meus direitos", são "infinitos", assim como o desejo desse pessoal de se sentir especial, salvadores do mundo. Se não se afirmarem como especiais, ficam ressentidos. Normalmente, quem quer salvar a humanidade está mais é se lixando para o semelhante, aquele cara que serve seu café na padaria, que paga 0% de imposto de renda mas  paga mais de 30% de imposto nas compras que ele faz no dia a dia. Todo dia...

Demandar cada vez mais serviços de qualidade, acreditando que "há da onde tirar", é olhar sempre apenas um lado da equação. É ser cada vez mais vítima de uma narrativa falsa. A história dos direitos, no fim do dia, dá cada vez mais poder arrecadatório aqueles que estão no poder. E cada vez mais, eles podem fazer o que querem com esses recursos, ao invés de prover serviços "públicos, gratuitos e de qualidade".

Resumindo:
  • O aumento de receitas é claro, e constante.
  • Esse aumento de receitas, tem sempre uma contrapartida na despesa.
  • Todos, em maior ou menor grau, pagam impostos abusivos.
  • As pessoas de menor renda sofrem mais, porque mais dos seus recursos disponíveis são direcionados para consumo, que podem ter alíquotas mais altas do que a do Imposto de Renda.
  • Quanto mais se demanda aumento de direito, que leva a aumento de imposto, mais se prejudica justamente aqueles com menos renda disponível.
  • É legítimo discordar da sanha arrecadatória, mas discordar sem entender é inócuo.
  • É incoerente reclamar da "derrama" fiscal e ao mesmo tempo não se preocupar com o fato da sua demanda por "direitos" ser parte - importante - do problema.
  • O tal do "público, gratuito e de qualidade" é olhar só um ângulo da questão, e trata-se de um ângulo bastante privado e não tão público se todo o resto da gestão pública é ignorado.
  • Os recursos são finitos, portanto, há sim um limite para o atendimento das demandas pelo poder público (é, sinto muito, mas não iremos virar a Noruega).
  • Há momentos que o governo mais atrapalha do que ajuda. A maneira como esses recursos são gastos e como as prioridades são definidas importam mais que o valor direcionado para uma demanda específica. Ignorar isso resulta em: mais impostos, mais gasto, e nenhum benefício adicional.
Reclamar da receita sem entender o que acontece com a despesa, é uma besteira quase tão grande quanto perder tempo discutindo com um "companheiro" que deseja salvar o mundo obrigando todo mundo pagar o "passe livre" dele.

Para finalizar, deixo as palavras de Theodore Dalrymple (o grifo é meu):
"A elevação dos direitos a benefícios tangíveis leva as pessoas, inevitavelmente, a uma mentalidade vil que oscila entre a ingratidão, na melhor das hipóteses - pois porque razão elas deveriam ser gratas por receberem algo que é um direito - e, na pior das hipóteses, ressentimento. O ressentimento é a única emoção humana que pode durar a vida inteira, pois provê infinitas justificativas para suas más ações."

Abraço!

Fontes dos gráficos: Secretaria do Tesouro Nacional (estimei os últimos dois meses de 2014 considerando os históricos dos mesmos meses dos anos anteriores).




terça-feira, 21 de outubro de 2014

Reduzindo o Emprego... E a Taxa de Desemprego!


Guaxinim de volta!

Vou começar com uma afirmação que pode parecer estranha: o emprego no Brasil caiu, e o desemprego também!

Isso quer dizer que o Guaxinim tem andado com o Níquel Náusea? Não... 

Antes de explicar a afirmação, para ser honesto na construção do argumento, vamos a dois gráficos rápidos.

Evolução da Taxa de Desemprego - 2003 a 2008
Prestem atenção como as linhas, apesar de mudarem de patamar, apresentam um comportamento parecido, ano a ano.

Evolução da Taxa de Desemprego - 2009 a 2014


Notem que o a taxa cai no final do ano, depois sobre um pouco nos primeiros meses, para depois voltar a cair. E isso se repete ano a ano, com algumas raras exceções ou pequenas variações na intensidade do movimento.

E porque estou atentando para isso? Porque em dados de emprego, na hora de comparar, é preciso tomar cuidado com essa sazonalidade. Não dá para comparar a taxa de desemprego de novembro de um ano, com a taxa de desemprego de março de um outro ano. Ou se olha a média de períodos iguais em anos diferentes, ou se comparam os mesmos meses em anos diferentes, para eliminar esse efeito.

Agora que isso (espero) está claro, podemos seguir.

Dizer que o emprego diminuiu e a taxa de desemprego caiu, parece uma incoerência. Para entender, é preciso decompor os principais componentes do emprego.
Primeiro, quero mostrar o que vem acontecendo com as pessoas que podem trabalhar. É a tal da PIA, população em idade ativa, ou seja, quantas pessoas numa determinada faixa etária podem realizar algum tipo de atividade econômica (trabalhar!). De novo, um gráfico!

Prontos para trabalhar! (estou usando o mês de agosto como base)
O gráfico é inequívoco, o número de potenciais trabalhadores só aumenta. Em teoria (simplificando um pouco aqui), o PIB brasileiro poderia aumentar, somente porque existirão mais trabalhadores, que irão produzir riquezas. Ou por outro lado, o produto poderá crescer pela maior utilização do fator trabalho, que sobe naturalmente com o crescimento populacional.

Mas então, porque estou falando que o país destruiu empregos e ainda assim fez o desemprego cair? Porque, esse número da PIA é só o número potencial de trabalhadores. O que entra mesmo no número do desemprego, são quantos destes trabalhadores efetivamente participam do mercado de trabalho. E vejam só, uma porção cada vez menor desse bolo que só cresce tem de fato buscado trabalhar. Essa é a PEA, a população economicamente ativa.

Olhem como essa taxa de participação caiu de repente.

Em 2014 a galera desencanou de trabalhar? Foi a Copa?


Bom, aqui mais uma vez estou, para manter o critério correto, usando os mesmos períodos (janeiro a agosto) para chegar na média da taxa, sem truques. O que posso dizer? Tem menos pessoas daquele bolo que só cresce, participando do mercado de trabalho. Ainda, considerando o desvio padrão do período 2003 a 2013, posso dizer com 98,8% de confiança que a média de 2014 representa uma realidade diferente dos 10 anos anteriores. Ou por outro lado, o que aconteceu em 2014 não foi só uma "flutuação normal", foi um lance bem diferente dos outros anos e que indica com razoável certeza uma mudança na média mesmo. 

Para economizar gráfico, digo o seguinte. Participavam do mercado de trabalho em agosto de 2013 um total de 24,521 milhões de pessoas. Em agosto de 2014, eram 24,114 milhões. Ou seja, a base sobra a qual a taxa de desemprego é calculada foi reduzida em 407 mil pessoas.

Agora o pulo do gato, e com gráfico. Vejam o que aconteceu com a quantidade de pessoas de fato empregadas, em agosto de 2013 e agosto 2014.

Opa, espera aí...

Então, em agosto 2014 eram 23,141 milhões de pessoas empregadas, e há um ano atrás eram 23,221. ou seja, foram mandados para a rua, 79 mil pessoas. Portanto, o emprego diminuiu, logo, foram destruídos postos de trabalho. 
Acontece que se o emprego diminui em 79 mil, e a população economicamente ativa caiu 161 mil (agosto 2013 contra agosto 2014), o resultado é que se consegue por um simples efeito matemático a redução da taxa de desemprego! 

E assim, está provado que o emprego no Brasil caiu, e o desemprego também! 

Vejam que curioso, são duas notícias essencialmente ruins
A taxa de participação cair mostra que menos trabalhadores podem ser empregados, ou seja, que o fator trabalho não é mais tão disponível e que o bônus de aumentar a produção simplesmente porque a quantidade de trabalhadores aumenta por crescimento populacional não existe mais.
A quantidade de empregos disponíveis diminuiu também, e creio que não preciso explicar que isso não é bom.

Mas, junte-se duas notícias ruins, e você pode dar uma notícia boa! Afinal, o desemprego era de 5,3% em agosto de 2013, e em agosto de 2014 conseguimos uma taxa de desemprego de apenas... 5,0%!! A menor de todos os tempos para agosto!
E como a taxa de participação caiu em 2014, isso é verdade para as quedas do ano todo...

Os objetivos desse post são vários. 
Primeiro, convém analisar os números antes de sair papagaiando a versão oficial. 
Segundo, essa questão do emprego é bem mais complexa do que parece e é fácil usar os números a favor ou contra dependendo de como você usa os dados e os períodos. O guaxinim é honesto e mostra o que ele fez para provar que não tem picaretagem aqui, ou pelo menos para deixar o espaço para a dúvida e questionamento...
Terceiro, há por aí uma falsa afirmação que medidas para o controle da inflação geraria desemprego alto. Bom, na prática já estão sendo destruídos empregos. O fato da inflação estar subindo o emprego caindo, apesar da taxa artificialmente também estar caindo prova que isso é mistificação.

E qual o efeito disto? O "bom" número do emprego gera um diagnóstico errado, o que impede uma ação adequada, tanto para recuperar o crescimento da população economicamente ativa, quanto para evitar a destruição de empregos que vem ocorrendo (reforçando: as pessoas estão sendo mandadas embora! apesar da propaganda oficial dizer o contrário). O impacto disso na produtividade e crescimento potencial do país é imenso, e negativo.

Isso significa que o Guaxinim é um gênio? Longe disso, muita gente já escreveu sobre isso. E mesmo quem comemora a taxa de desemprego baixa tem condições de saber disso, mas optam ignorar. O ponto é que não é dada ênfase ou os "analistas" se esquivam de um debate mais profundo. Isso não dá manchete em jornal, nem ganha votos. É chato, são muitos gráficos.

Para finalizar, uma frase do Upton Sinclair: "é difícil conseguir que um homem perceba alguma coisa, quando sua remuneração depende de não percebê-lo". Eu adicionaria aí a ideologia e a manchete no junto com a remuneração (as vezes essas coisas se misturam...).

Abraço!

Obs.: Dados do IBGE.






segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Explicação Rápida (quase)


Guaxinim de volta pra uma postagem relâmpago.

Vamos lá.


Crescimento do PIB de 2009 a 2014 (para 2014, estou usando projeções feitas em cima dos números já realizados até Julho).



Então vamos lá, depois da crise de 2008, o PIB cresceu ano a ano a partir de 2009, mas vem perdendo força. Mas cabe entender da onde veio este crescimento. Num primeiro momento a indústria deu uma força, devidos a incentivos dados pelo governo (desonerações pontuais) e a capacidade instalada. A agricultura ajudou, principalmente devido a alta nos preços das commodities agrícolas, que o Brasil produz em quantidade.

Agora vejam este gráfico.


E porque foi "fácil" sair de uma contração de -0,3% do PIB para 7,5%? Porque havia capacidade ociosa criada durante a crise. Então se aumentava a produção e a produtividade simplesmente "ligando as máquinas". Mas não vou botar tudo na conta de um só fator de produção, basta ver o gráfico abaixo.



É menos confuso do que  parece. As barras são o crédito concedido como percentual do PIB. Ou seja, se a barra cresceu de 43,85% em 2009 para estimados 58% do PIB em 2014, quer dizer que o crédito aumentou mais que o PIB. Logo, a produção aumentou, mas os recursos disponíveis para consumo e investimento também aumentaram, e nesse caso, meio que na base da porrada dos bancos públicos, o que é questionável mas não é o ponto deste post.
Mas não fica por aí. Vejam os números do desemprego. Em 2009, assim como era só botar "pau na máquina" era fácil adicionar trabalhadores porque o desemprego era alto. Aumenta-se 1% a quantidade de trabalhadores e se consegue aumentar pouco menos que isso a produção. Isso é verdade com o desemprego em 8,1%, mas com estimados 5%, essa "folga" não existe mais.
E qual o resultado disso? Menos oferta, mais demanda, mais inflação. A projeção é 6,5%, e vou usar esse número para manter o critério, mas deve ultrapassar esse número. E o fato é que o governo Dilma não tem atuado para resolver este problema, pelo menos não de forma séria.

Mas não vou parar por aqui. Isso tudo gerou mais algumas duas distorções graves. A primeira delas é a abaixo:


Se o PIB não cresce porque o modelo crédito-consumo-ocupação de capacidade falha, e os preços das commodities cai, o governo arrecada menos. E o governo de modo geral já investe pouco. Este especialmente não é um grande investidor, prefere a despesa corrente. Uma vez que não há investimento, não há crescimento de produtividade.
Pior, há a política de tentar viabilizar o investimento usando o BNDES. Baixaram o juro na marra (o a taxa selic, o "target selic rate" do gráfico), o que ajudou a inflação subir. Mas há a tal TJLP, a taxa de juros de longo prazo. É a taxa que referência os empréstimos do BNDES (grosso modo). A Selic referencia o que o governo PAGA de juros da dívida dele, a TJLP referencia o que ele RECEBE. Se uma é 11% ao ano e outra 5%, logo isso tem um custo. É só jogar essa diferença sobre os bilhões transferidos para o BNDES. Mas esse custo se traduziu em maior investimento? Não, e a razão é que só o subsidio não é suficiente se o governo não coloca regras claras e para piorar ainda assedia setores com políticas populistas e equivocadas.
O resultado? Caminhamos para ter uma das taxas mais baixas de investimento como proporção do PIB dos últimos anos. E isso impede o crescimento da produtividade, que segura o PIB, que impede o crescimento não inflacionário dos salários (tudo está relacionado).

Seria bom se fosse só isso. Vejam este gráfico.




Bom, se o país não produz internamente, vai buscar lá fora. O déficit em transações correntes no período explodiu. Isso devido a conta de serviços e conta capital.
Outro dado importante, o investimento direto estrangeiro, como não ocorria há muito tempo, já não fecha a conta. Ficamos a mercê do investimento em renda fixa (que deve puxar o juro pra cima) e em ações (os especulativos, segundo o ex-ministro em exercício Mantega).
E olhem a balança comercial. Se os preços altos das commodities ajudou, hoje o Brasil precisa mandar mais navios de soja para receber o mesmo tanto de navios de TVs do exterior (a isso se chama "deterioração de termos de troca"). As exportações crescem menos que as importações, porque o aumento do consumo aqui se dá também pelo aumento do consumo de itens importados.

Bom, e pra onde vai a coisa? Aí piora de novo.


Bom, olhando os números fiscais, dá para ver que a dívida líquida está "estável". Mas aí já é ser bonzinho. Esses números estão maquiados com a tal "contabilidade criativa". Esse link explica melhor que esse número de superávit primário de 1,8% é na verdade, um déficit. Mas o déficit nominal, ou seja, o que sobra depois dos pagamentos de juros, continua alto.
Se você somar esse valor, ao que precisa ser refinanciado da dívida na quele ano, olhe só em que companhia o Brasil está (os números não são atualizados, mas não mudam a direção tão rapidamente).


O Brasil tem a dívida com o menor prazo médio, o maior custo, e precisa financiar pouco menos do que Espanha, Grécia e Portugal e mais do que a Irlanda, num único ano.


Em resumo, a política econômica atual pode se valer de um modelo que permitia o crescimento dos salários (incluindo o mínimo) porque era fácil ganhar produção e produtividade naquela conjuntura inicial. Mas a realidade mudou.
Se o governo continuar gastando mal, e não limitar o gasto dele de alguma forma, até ajustando a fórmula de reajuste do mínimo, essas distorções (criadas pela própria gestão econômica) irão cobrar seu preço de uma forma mais perversa, via desemprego e recessão mais acentuada (que será devidamente creditada na conta da "crise internacional" ao invés da própria incompetência).
É errado dizer que o mínimo precisa ser repensado? Não! Eu diria que precisaria ser limitado ao crescimento do PIB ou da produtividade, mas não há muito consenso sobre isso. Mas dizer que é preciso PENSAR sobre isso não corresponde a querer "arrochar" o salário mínimo ou tirar comida do prato das pessoas.Ora, se a produtividade não cresce porque o modelo esgotou, o salário deve crescer independente disso? Entendo que não.
Seria melhor trabalhar para aumentar a produtividade, fazendo o governo gastar menos numa rubrica e aumentar o investimento, que possa permitir aumentos reais de salário sustentáveis mais a frente. Subir o salário acima da produtividade tem um efeito: mais inflação. E mais inflação é maléfico justamente para quem ganha menos, ou seja, os "beneficiados" pelo aumento do salário mínimo.
Medidas para consertar isso podem ter um efeito negativo? Sim, mas seriam medidas que abririam a possibilidade para uma recuperação e crescimento lá na frente, o que é melhor do que de insistir num modelo esgotado.
O problema é que o cálculo político valoriza o ganho de curto prazo. Parece que as pessoas esquecem que o Brasil vai continuar existindo depois que elas morrerem. Entre uma decisão que seja boa para o país e outra boa paras as pessoas no próximo ano, um governante sério deve optar pela primeira, para que as próximas gerações se beneficiem e que o povo possa progredir historicamente, ao invés de se agarrar ao passado.

Abraço do Guaxinim-Fênix!

Obs.: Dados do IBGE, CNI, FMI e Banco Central.







sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Vulnerabildiade e Fluxos Cambiais

Guaxinim de volta!

Finalmente saíram os números do balanço de pagamentos, divulgados pelo Banco Central.

O assunto é árido, mas importante. Ele se relaciona com a vulnerabilidade de um país. Mas o que é vulnerabilidade? É quanto o setor externo pode influenciar uma economia, impactando o crescimento e o seu desenvolvimento.

A vulnerabilidade é determinada por (1) credibilidade da política econômica, (2) tamanho dos mercados financeiros do país e (3) dimensão dos fluxos de capitais em relação à economia local.

Um assunto que deve aparecer na eleição é a crise de confiança do mundo em relação ao Brasil. O balanço de pagamentos é um bom indício do "estado das coisas" no setor externo.

Vamos começar pelas conclusões:
  • A estrutura do balanço de pagamentos brasileiro piorou sob diferentes e importantes aspectos, e isso parece ser uma tendência.
  • O déficit em transações correntes (balança comercial + serviços + rendas + transferências) só piorou desde 2008 e bateu recorde negativo de USD 81,3 bilhões em 2013.
  • O desempenho comercial do Brasil foi pífio em 2013, ficando no menor valor dos últimos 12 anos, e caindo 87% em relação à 2012, devido a importações maiores.
  • O Brasil contrata cada vez mais serviços no exterior (aluguel, transporte, turismo, consultorias etc), isso mostra falta de expertise local. Recorde negativo em 2013 de USD 47,5 bilhões.
  • A conta rendas (salários, lucros e dividendos pagos, juros e amortização de empréstimos etc) também piorou nos últimos anos.
  • O ano de 2013 foi o primeiro nos últimos 12 anos que o déficit superou o valor de investimento estrangeiro direto.
  • Em 2013, passamos a financiar o déficit por investimento em carteira (dívida e ações).
  • O financiamento via dívida e ações dependem muito do momento econômico e são mais voláteis. 
  • O risco de crédito do Brasil vem piorando, o que afeta a captação via renda fixa.
  •  Nas ações, a atividade econômica está fraca, os preços de commodities caíram, a Petrobrás que compõe boa parte do índice está sendo vítima da ingerência do governo. E outras economias do mundo tem se mostrado mais atraentes do que o Brasil, o que faz diferença para quem gerencia portfólios globais.
Olhamos para os países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália e pensamos que essa realidade é diferente da brasileira. Um dos motivos para a crise nesses países, foi o aumento do endividamento externo para financiar crescentes déficits em transações correntes.

No Brasil, até 2012 ao menos, os déficits eram financiados por fluxos de investimentos estrangeiros diretos. Mas esquecem que esse investimento precisará ser remunerado, ou seja, levarão também ao aumento da conta "rendas" quando os dividendos forem pagos. Mas são considerados uma boa fonte de financiamento, por serem mais estáveis e de longo prazo. Mas agora utilizamos também capitais mais instáveis e de curto prazo.

Até o momento, o mix está favorável, com demanda para dívida e ações do setor privado. Mas isso pode mudar caso o governo continue aumentando a dívida interna de forma irresponsável e conduzindo a política econômica por critérios politicamente enviesados, afastando o bom senso econômico.

As exportações não se beneficiam mais de preços de commodities altas, o PIB está fraco e a inflação alta. Não é um cenário muito atraente, e a credibilidade da política econômica vem sendo questionada pelos mercados financeiros há algum tempo.
O lado positivo é que Brasil está melhor posicionado quanto ao tamanho do mercado e a dimensão dos fluxos, quesitos para a vulnerabilidade externa.

Então, o "estado das coisas" não parece bom. Sob esse ponto de vista, um real desvalorizado, na casa dos 2,20 - 2,60 deve ser a tendência para 2014.

E essa é uma das razões para o governo estar a contragosto fazendo concessões de rodovias e aeroportos (para aumentar o investimento estrangeiro direto).
Também explica tentativas recentes de acordos comerciais. Dado que o sinal amarelo aceso na balança comercial foi causado por um Itamaraty mais ideológico e menos pragmático em relação a acordos de troca com Mercosul e outros países.

No fundo, é mais um exemplo da falta de visão de longo prazo na condução da política econômica do país que vai minando a estabilidade da economia.

Para finalizar, deixo os gráficos que foram a base da análise. Todos os valores estão em milhões de dólares e mostram os saldos acumulados ao ano em cada uma das contas, de 2002 a 2013.

Transações Correntes: para o fundo do poço e além!
Comércio Internacional: importando cada vez mais para consumir.
Serviços: made in Brazil? Nem pensar!
Rendas: juros e dividendos remunerando uma base crescente nos últimos anos.
Investimento Direto: privatização? Compro no Brasil ou no México?
Investimento em Renda Fixa: e se o risco-país aumentar?
Investimento em Ações: porque não comprar nos EUA, onde o PIB deve crescer mais?

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Mais um marco histórico.

Atingimos um marco histórico em novembro de 2013.

A dívida pública federal alcançou o incrível valor de dois trilhões, noventa e sete bilhões, duzentos e cinquenta e seis milhões, cento e cinquenta e três mil, seiscentos e trinta e dois reais e setenta e quatro centavos (ou 2.097.256.153.632,74).

Sem que se fizesse muito alarde, o Governo Federal agora está em débito em mais de 2,09 trilhões de reais.  

Para efeito de comparação, o PIB do Brasil (soma do valor final de tudo o que é produzido no país no período), está pouco acima de 4,40 trilhões de reais.

A dívida do governo federal cresceu de dezembro 1995 até novembro de 2013, à uma taxa média de 23% ao ano (o período foi dado pela disponibilidade de informação no tesouro nacional).

E qual o resultado do aumento deste endividamento? Quando este tópico é trazido à tona, aparecem questões como o pagamento da dívida externa (falácia desmentida pelo gráfico ao final), heranças malditas, gastos com previdência, investimentos sociais, etc. E isso só afasta a discussão do seu ponto central, e esses tópicos não passam pela solução do problema.

Se a dívida do governo sobe, ela sobe porque ele tem uma receita de impostos, despesas diversas (incluindo juros da própria dívida) e no final sobram ou faltam recursos. No segundo caso, a falta de recursos leva ao financiamento via empréstimo para cobrir a conta. Tão simples quanto isso.

O país tem crescido nos últimos anos, e a receita de impostos do governo federal aumentou. As despesas aumentaram num ritmo ainda maior, e o endividamento cresceu.

Mas o país se endivida para que? Estamos financiando que tipos de gastos? Caso a dívida tivesse sido contraída para investimentos em setores como saúde, educação, infraestrutura, com base num crescimento da dívida de 23% ao ano, aliado ao crescimento do PIB, seria lógico supor que deveríamos ter observado substanciais avanços nas áreas sob a tutela do setor público. Mas não é o que a realidade mostra.

O que se vê são governantes reclamando porque não podem subir impostos ou porque não podem reinstituir contribuições que deixaram de ser cobradas.


Atualmente, o crescimento da dívida se justifica sob um argumento de que ela está ficando mais sustentável. Não é o objetivo deste post colocar esse argumento à prova, porque uma dívida sustentável não quer dizer que ela tenha sido tomada por necessidades intrínsicamente positivas. 

O modo brasileiro de fazer política, que na prática é só o bom e velho clientelismo, impede o país de fazer as reformas necessárias para evitar que o país aumente suas dívidas a taxas de dois dígitos ao ano sem nenhum benefício para o seu povo. 

Todo mundo tem que estar com seus interesses atendidos, e para que um pequeno número de interesses individuais e projetos de poder sejam atendidos, é imposta uma carga desnecessária ao país todo, ao melhor estílo Brasil Império.

A evolução do problema: uma hora a conta chega.




Fontes: e Secretaria do Tesouro Nacional e Ipeadata.gov.br

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Alou!

Então o Guaxinim voltou.
Dessa vez num outro formato, e também na língua portuguesa.

A ferramenta também é nova. A experiência da revista foi boa, mas marcada por algumas dificuldades decorrentes do compromisso de entregar um conteúdo semanal. Espero que o blog seja mais tranquilo de gerenciar.

A idéia é revisitar alguns assuntos da revista, mas abrir um pouco mais o espectro dos posts além de economia e finanças.

A periodicidade? Aleatória, mas com alguma frequência, nada de deixar o guaxinim na geladeira.

O Guaxinim: novo, melhorado, e com porte de armas laser.